Autor del informe
Mauro Fisberg
Coordenador, Instituto Pensi- Sabará Hospital Infantil, Sao Paulo, Brasil
A educação sexual como ferramenta de redução de riscos de gestação, especialmente em adolescentes, tem sido determinante para maior informação e controle da atividade sexual precoce. No entanto, poucos programas de educação contemplam a orientação sexual adequada, que sofre um grande viés das características religiosas, econômicas, políticas e sociais de cada país, e mesmo de cada professor. Projetos de educação sexual quase sempre são realizados com base na anatomia, fisiologia e dependendo do programa, na utilização de mecanismos contraceptivos. Sem dúvida, pouco se discute de motivações, desejos, consequências, e obviamente o enfoque é quase sempre determinado por uma visão héterocentranda.
A gravidez na adolescência é uma realidade em todos os países, e muitas vezes os programas de acompanhamento e prevenção são tardios, já
visando a prevenção de uma segunda gestação. Quanto maior a escolaridade, meios de informação e controle familiar, menor a taxa de gestação na adolescência. Quase sempre discutem-se riscos anatômicos, para o bebe e para a gestante e poucas vezes trabalhamos com toda a dinâmica social, cultural, aceitação dentro dos lares e na sociedade, o abandono escolar e a necessidade de mudanças na vida do adolescente quando defrontado com uma gestação.
O estudo de Marisela Vivas-García y col., analisa a relação entre a educação sexual e a gravidez em adolescentes, no estado de Táchira, VE. Uma excelente discussão sobre os aspectos deficientes de programas governamentais, politicamente orientados, e das dificuldades de centralizar informações sem treinamento adequado. A falta de avaliação de projetos individuais, facilita a orientação de acordo as preferencias, crenças e atitudes do professor, em detrimento de uma informação regionalizada, adequada a faixa etária e riscos de sectarismo. Vivas-García e colaboradores mostram a importância da educação formal na prevenção, mas não determinam diretamente a influência da educação sexual na prevenção. O grande numero de adolescentes que em uma primeira relação não utilizam qualquer contraceptivo mostra exatamente a falta de informação, a crença do adolescente de que com ele nunca acontecerá, a dependência de uma visão cultural essencialmente machista, em que o homem determina o uso ou não do método contraceptivo mais simples, como o preservativo.
Em relação ao artigo, senti falta da análise das características sociais e econômicas, com a deterioração do estado venezuelano nos últimos anos, levando a pobreza, piora da educação, fuga de cérebros e perseguições políticas. Seguramente a piora do conteúdo educacional pode agravar o processo.
Um excelente comentário do trabalho é a relação existente entre a condição de ensino da abstinência como ferramenta de prevenção da gestação, levando a um afastamento da liberdade de opção de uma grande quantidade de adolescentes que não heteronormativos. Importante ressaltar a necessidade de programas modernos de educação sexual, atualizados, politicamente adequados, que trabalhem com o universo particular da população alvo, prevenindo não somente a gestação, mas também as doenças sexualmente transmitidas, sem preconceitos. A necessidade de projetos cada vez mais precoces, para prevenir atividade sexual precoce, determina a obrigatoriedade de treinamento adequado dos professores, programas sempre atualizados, e uma linguagem que determine o sucesso junto a este público tão complexo- o adolescente.
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