Red Científica Iberoamericana

ANSIEDADE E DEPRESSÃO EM (ANSIEDAD Y DEPRESIÓN EN LOS) PACIENTES ONCOLÓGICOS DURANTE A PANDEMIA

Gustavo Fonseca de Albuquerque Souza1,Esther Soraya Lima de França2,Amanda Katharinne Souza Lima3,Adene Kaline de Souza4,Maysa Aiany Dias Sousa Alves5,Juliana Soares de Oliveira Rego6,Jurema Telles de Oliveira Lima7 y Alex Sandro Rolland Souza8
1Estudiante de Medicina, Estudiante, Medicina, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil
2Estudiante de Medicina, Medicina, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil
3Estudiante de Medicina, Universidade de Pernambuco, Serra Talhada, Brasil
4Estudiante de Medicina, Medicina, Universidade de Aquino Bolivia, Santa Cruz de La Sierra, Bolivia
5Estudiante de Medicina, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil
6Estudiante de Medicina, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil
7Médica, Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), Recife, Brasil
8Médico, Profesor, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil

Recife, Brasil (SIIC)

O presente informe objetiva determinar a prevalência e identificar os fatores associados a sinais e/ou sintomas de ansiedade e depressão em (El objetivo del informe es determinar la prevalencia e identificar los factores asociados con signos y síntomas de ansiedad y depresión en los) pacientes oncológicos durante a pandemia, contribuindo assim com o adequado tratamento desses pacientes através da criação de novas linhas de políticas públicas.

A doença infeciosa do novo coronavírus (COVID-19) é uma condição clínica que afeta o trato respiratório e outros sistemas, com transmissão através de partículas respiratórias infectadas, os aerossóis, e que rapidamente se tornou uma (La enfermedad infecciosa del nuevo coronavirus, o COVID-19, es um cuadro clínico que afecta el tracto respiratorio y otros sistemas, con la transmisión a través de partículas respiratorias infectadas –los aerosoles– que rápidamente se transformó en una) grave pandemia.¹ Devido a essa forma de transmissão, fez-se necessário a implementação do distanciamento social, o qual consiste em uma medida preventiva mais ampla que visa reduzir as interações sociais entre as pessoas na (se hizo necesaria la implementación del distanciamiento social como medida preventiva más amplia que pretende reducir las interacciones sociales entre las personas en la) comunidade.² Outras medidas protetivas como a quarentena e o isolamento social (y el aislamiento social) também foram adotadas, além das medidas de higienização das mãos.²
Pode-se definir o distanciamento como o esforço para diminuição dos contatos e aproximação (como el esfuerzo por disminuir los contactos y la proximidad) física entre as pessoas de uma população, a fim de diminuir a velocidade de contágio. O isolamento consiste em uma forma de separar as pessoas infectadas das assintomáticas. Enquanto, a quarentena é uma forma de mitigar a circulação de pessoas que possam ter sido potencialmente expostas à doença (pueden haber estado potencialmente expuestos a la enfermedad).² Apesar da importância das ações restritivas para controle da COVID-19, a implementação dessas medidas está associada ao aumento do estresse, ansiedade e depressão.³ Esse fato ocorre (Este hecho se produce) principalmente em populações mais vulneráveis, como pessoas que convivem com câncer ou outras doenças crônicas.4,5

O câncer é uma doença cujo significado é ameaçador para a maioria das pessoas, pois está associado ao risco de morte e maiores mudanças no (El cáncer es una enfermedad cuyo significado es intimidante para la mayoría de las personas, ya que está asociado con el riesgo de morir y grandes cambios en el) estilo de vida, sendo evidenciado, desde o diagnóstico e durante o tratamento, em comparação com populações saudáveis, maior risco de transtornos mentais, como ansiedade e depressão.6,7 Atrelado a isso, pesquisas (Junto con esto, las investigaciones) durante o período de pandemia, sugerem maior gravidade da COVID-19 em pacientes oncológicos, o que causa aumento dos transtornos psicológicos.8

Estudo sugere que esse alto risco de desenvolvimento de problemas de saúde mental nesse grupo populacional, durante esse período, está relacionado, primordialmente, à frágil saúde física, às barreiras ao acesso aos cuidados médicos de rotina, aos maiores riscos de infecção pela (con una salud física frágil, con obstáculos en el acceso a los cuidados médicos de rutina, a mayores riesgos de infección por la) COVID-19 e à maior probabilidade de doença grave.9 Ademais, foi evidenciado que fatores como baixo nível de suporte social também é um preditor significativo de sofrimento em pacientes com câncer, sendo fundamental a manutenção de um bom relacionamento com os familiares, mesmo que a distância.8

Destaca-se que o sofrimento e problemas de saúde mental, quando não tratados de forma adequada, em pacientes com câncer, podem levar a graves consequências, como diminuição da adesão ao tratamento oncológico e da taxa de sobrevivência, além do aumento dos custos de saúde e baixa qualidade de vida (y de la tasa de supervivencia, además del aumento en los costos de salud y menor calidad de vida).10
O presente estudo objetivou determinar a prevalência e identificar os fatores associados a sinais e/ou sintomas de ansiedade e depressão em pacientes oncológicos durante o período de pandemia pela COVID-19; trata-se de um corte transversal realizado entre os meses de junho e outubro de 2020. A amostra foi composta por brasileiros naturais ou naturalizados, residentes no Brasil e portadores de doenças oncológicas, excluindo-se os menores de 18 anos e os que preencheram de forma incompleta ou incorreta o formulário (y los que adjuntaran el formulario incompleto o de manera incorrecta).

Para a realização da pesquisa, foi desenvolvido, por meio da plataforma Google Forms, um questionário online, o qual foi disponibilizado livremente no perfil das redes sociais, como (un cuestionario en línea puesto a disposición libre en los perfiles de redes sociales como) Whatsapp, Instagram, Facebook, além de ser encaminhado via e-mail. A população foi estimulada a participar como co-divulgadora da pesquisa na medida em que poderiam encaminhar o formulário para os seus pares, utilizando a técnica metodológica snowball sampling.11

As variáveis independentes incluídas no presente estudo foram baseadas nos pilares biológicos, sociodemográficos, econômicos, hábitos de vida, antecedentes pessoais além de aspectos relacionados à COVID-19 e à doença oncológica. Dentre as variáveis biológicas, destacam-se idade (< 60 anos e = 60 anos) e sexo (feminino e masculino), e as sociodemográficas, escolaridade (< 12 anos e = 12 anos), estado civil (ausência de parceiro e casado/união estável/morar junto [soltero y casado/unión estable/conviviente]), etnia (branca e não branca), número de cômodos que possui a residência (cantidad de habitaciones que posee el hogar) (1-6 e > 6) e religião (sim e não). A respeito das atividades econômicas, algumas questões foram abordadas, como se é aposentado, se possui benefício auxílio-doença, se usa atividades remotas para o trabalho e a situação trabalhista e renda mensal antes e durante o distanciamento social (como ser si está jubilado, si posee beneficio social por enfermedad, si utiliza herramientas remotas para trabajar, la situación laboral y los ingresos mensuales antes y durante el distanciamiento social). Em relação aos hábitos de vida dos participantes, foram abordadas questões sobre a forma de lazer, prática de exercícios físicos, uso de drogas ilícitas, tabagismo e bebidas alcoólicas (aumentei/permaneci da mesma forma e diminui/não faço uso). Já em relação aos antecedentes pessoais, foram pesquisados (En relación con los antecedentes personales, fueron investigados) a presença de ansiedade e depressão prévia, doenças crônicas e uso de medicamentos para dormir (aumentei/permaneci da mesma forma e diminui/não faço uso). Ademais, foram pesquisadas sobre as medidas adotadas para diminuir a transmissão do novo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), como a necessidade de quarentena e distanciamento ou isolamento social. Foi abordado também, se possuíam história de contato com alguém suspeito ou confirmado, se apresentavam sintomas e se realizaram teste laboratorial para a (Fue considerado también, si tuvieron contacto estrecho con personas sospechadas o confirmadas de COVID-19, si presentaron síntomas y si se realizaron testeos de laboratorio para la) COVID-19. Por fim, questionou-se sobre a doença oncológica, como o tempo de diagnóstico (< 1 ano e = 1 ano), se possui sintomas relacionados ao câncer, se teve ou tem metástase, se está internado, além do local do câncer e tratamento realizado (si tiene otros síntomas relacionados con el cáncer, si ha tenido o ha hecho metástasis, si está hospitalizado, además de la ubicación del tumor y el tratamiento realizado).

Para avaliação da presença de sinais e/ou sintomas de ansiedade e depressão, variáveis dependentes, utilizou-se a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (EHAD), a qual é amplamente utilizada para avaliar transtornos de humor em pacientes com doenças físicas. A EHAD contém 14 questões do tipo múltipla escolha e compõe-se de duas subescalas, uma para ansiedade e outra para depressão, com sete itens cada. As questões referentes à ansiedade são as 1, 3, 5, 7, 9, 11 e 13 e as referentes à depressão são as 2, 4, 6, 8, 10, 12 e 14. Cada uma dessas questões pode ser pontuada de 0 a 3 e a pontuação global em cada subescala vai de 0 a 21. Em relação ao escore total em cada subescala, classifica-se: 0 a 7 pontos, ausente sinais e/ou sintomas de ansiedade e/ou depressão; 8 a 10, leve; 11 a 14, moderado; e 15 a 21, grave.12-14

Para a realização da análise estatística foi utilizado o software Epi-info 7.2.4.0 (Centers for Disease Control and Prevention – CDC, Atlanta, DC). A análise univariada foi feita através da associação entre as variáveis dependentes e independentes, utilizando os testes de chi-quadrado e exato de Fisher, quando pertinentes. Para se determinar a força da associação foram calculadas a razão de prevalência (RP) e seu intervalo de confiança a 95% (IC 95%). Realizou-se a análise multivariada com o modelo inicial sendo composto pelas variáveis explanatórias, que apresentaram valor p < 0.20 na análise univariada e, permanecendo no modelo final, as variáveis com nível de significância menor que 0.05, sendo calculada a razão de odds (OR) inicial e ajustado, além de seu IC 95%.

O tamanho amostral foi calculado utilizando o programa Staltcalc do Epiinfo 7.2.4.0 (CDC, Estados Unidos da América – EUA, Atlanta, DC). Para um nível de confiança de 95%, uma margem de erro aceitável de (un margen aceptable de error del) 5% e uma frequência de 24.0% de ansiedade em brasileiros,15 seriam necessárias 280 pacientes, a qual foi aumentada para 315 prevendo-se eventuais perdas (cantidad que fue aumentada hasta 315 pacientes, previniéndose eventuales bajas).

O estudo foi iniciado apenas após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) em Seres Humanos da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), e após aprovação do CEP em Seres Humanos, do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP/PE). Todos os participantes incluídos no estudo concordaram em participar do estudo assinando virtualmente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).



Resultados e discussão

Foram recebidas 315 respostas, dentre as quais cinco foram excluídas por possuírem < 18 anos e 13 por serem respostas inadequada ou incompletas, restando 297 pacientes.

Observou-se uma média de idade de 56.2 ± 18.4 anos, variando entre 18 a 98 anos, prevalecendo o sexo feminino (n = 219; 73.7%), católicos (n = 158; 53.2%), casados/união estável (n = 172; 57.9%) e que residem na região nordeste do Brasil (n = 179; 60.3%), além de 49.2% (n = 146) pacientes que se declararam de etnia branca. Quando indagado sobre o tipo de câncer, 49.5% (n = 147) possuíam câncer de mama e 47.1% (n = 140) obteve o diagnóstico há aproximadamente 1-5 anos (n = 140; 47.1%). A maioria, 73.1% (n = 217) não apresentam metástase, 68.0% (n = 202) estão tendo acesso ao tratamento/acompanhamento do câncer durante o período de pandemia, 66.0% (n = 196) se trataram com cirurgia, 60.3% (n = 179) com quimioterapia e 44.1% (n = 131) com radioterapia.

Após interpretação da EHAD, evidenciou-se que 33.7% (n = 100) possuíam sinais e/ou sintomas de ansiedade, sendo leve em 18.2% (n = 54), moderado em 10.8% (n = 32) e grave em 4.7% (n = 14). Para depressão, 27.9% (n = 83) dos indivíduos apresentavam sinais e/ou sintomas, sendo leve em 16.2% (n = 48), moderado em 8.1% (n = 24) e grave em 3.7% (n = 11).

Nosso estudo encontrou uma associação significativa com variáveis biológicas, sociodemográficas, socioeconômicas e aspectos relacionados ao câncer (Tabelas 1 e 2), além da maior prevalência de sinais e sintomas de ansiedade e depressão em pacientes portadores de câncer durante a pandemia pela COVID-19. Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros, durante a pandemia da COVID-19, identificou índices semelhantes de ansiedade (24.0%) e depressão (21.0%) em pacientes oncológicos.15 Entretanto, estudos prévios à pandemia identificaram menor taxa desses transtornos, principalmente de ansiedade, com taxas em torno de 10.0%, sugerindo relação entre o estresse causado por esse período e a piora da qualidade de saúde mental desses pacientes (sugiriendo una relación entre el estrés causado por ese período y el deterioro de la calidad de la salud mental de estos pacientes).10 Vale ressaltar que essa prevalência pode variar com o tipo de câncer e que o nosso estudo incluiu pacientes portadores dos mais diversos tipos.16




Observou-se maior prevalência de transtorno de ansiedade em pacientes oncológicos com menos de 60 anos. Ratificando nosso resultado, estudo anterior a pandemia evidenciou que indivíduos com menos de 50 anos possuem maior risco de desenvolverem algum tipo de morbidade psicológica, por ficarem mais angustiados do que os idosos ao se depararem com o diagnóstico de doenças graves como o câncer (los menores de 50 años tienen mayor riesgo de manifestar algún tipo de morbilidad psicológica, ya que se encuentran más angustiados que los adultos mayores ante el diagnóstico de enfermedades graves como el cáncer).17 Nesse sentido, uma outra pesquisa evidenciou que mulheres com menos de 50 anos, portadoras de câncer de mama, apresentaram relevante taxa de ansiedade e maior comprometimento emocional.18

Pôde-se observar que a prática de atividade de lazer foi fator de proteção para ansiedade. Corroborando com nossos achados (En coincidencia con nuestros hallazgos), estudos anteriores evidenciam que pessoas com câncer que participaram ativamente de atividades de lazer relataram percepções de saúde mais altas do que aquelas que não participaram.19 Além disso, pesquisas sugerem que esse tipo de atividade serve como um tratamento. Ademais, o aumento da participação nessas atividades foi associado a uma redução da autoavaliação ruim em relação a saúde durante o primeiro ano após o diagnóstico e um ano depois (Además, la mayor participación en estas actividades se asoció con una reducción de la deficiente autoevaluación en relación con la salud durante el primer año posterior al diagnóstico y un año después).20 Além disso, pesquisas sugerem que esse tipo de atividade serve como um tratamento não farmacológico importante para melhorar a qualidade de vida e a saúde mental desses pacientes, diminuindo também a mortalidade dos sobreviventes ao tratamento.21,22 Apesar disso, é comum que pacientes com câncer, muitas vezes devido ao tratamento exaustivo e a própria doença, limitem as atividades de lazer e exercício físico, o que pode levar ansiedade (A pesar de esto, es común que los pacientes con cáncer, a menudo debido a un tratamiento exhaustivo y a la propia enfermedad, limiten las actividades de ocio y el ejercicio físico, hechos que pueden provocar ansiedad). Um estudo realizado em pacientes com câncer de mama evidenciou associação entre restrições das atividades de lazer e presença de sintomatologia ansiosa e depressiva.23

Em relação à prática de atividades físicas, foi visto que seu aumento ou manutenção atuam como fator protetivo para o desenvolvimento de sinais e/ou sintomas de ansiedade e depressão nos pacientes oncológicos (se observó que su aumento o mantenimiento actúa como factor protector para La aparición de signos o síntomas de ansiedad y depresión en pacientes con cáncer). Corroborando com esse achado, uma pesquisa realizada em Taiwan, com pacientes portadores de câncer de pulmão, comparou a redução de sinais e sintomas de ansiedade e/ou depressão em pacientes que realizavam caminhadas frequentes com os que não realizavam e observou que a prática de uma atividade física exerce efeitos positivos sobre depressão e ansiedade, reduzindo a prevalência dos seus sinais e sintomas nesse grupo de paciente (reduciendo la prevalencia de sus signos y síntomas en este grupo de pacientes).24 Isso ocorre porque, segundo outras pesquisas, o exercício físico está associado a maior extroversão e maiores buscas de sensações, enquanto a sua falta está associada a maior ansiedade, depressão e neuroses.25 Pesquisadores também apontam que o exercício proporciona melhora no metabolismo, transporte de oxigênio e funcionamento do sistema nervoso central e periférico, além de criar uma homeostase global que possivelmente dará ao paciente um sentimento geral de bem-estar,26 com efeitos positivos nos aspectos físicos, sociais e psíquicos e melhora do prognóstico e da sobrevida.27
O acesso ao tratamento/acompanhamento do câncer foi fator de proteção para a apresentação de sinais e/ou sintomas de ansiedade e depressão. Na literatura, foi evidente, nos pacientes que obtiveram um maior acesso ao tratamento e maiores esclarecimentos sobre sua condição, diminuição significativa da ocorrência de sintomatologia ansiosa e depressiva, podendo variar de acordo com tipo de câncer (En la literatura se observó, en los pacientes que tuvieron mayor acceso al tratamiento y mayor esclarecimiento sobre su condición, una disminución significativa en la aparición de síntomas ansiosos y depresivos, los cuales pueden variar según el tipo de cáncer).16 Sendo assim, é evidente que, devido às restrições impostas pela pandemia ao acesso dos pacientes oncológicos a um adequado acompanhamento, houve um aumento de medos e preocupações desse (debido a las restricciones impuestas por la pandemia en relación con el acceso de los pacientes oncológicos a un seguimiento adecuado, aumentaron los temores y las preocupaciones al respecto en este) grupo acerca da sua própria condição de saúde e possibilidade de recorrência da doença.10

Quanto ao uso ou aumento de medicamentos ansiolíticos pelo paciente oncológico foi observado uma associação entre o crescimento do uso dessas drogas e o crescimento do risco desenvolvimento de sinais e sintomas ansiosos e depressivos. De forma semelhante ao encontrado, um outro estudo sugeriu que essa relação pode ser explicada pelo potencial de algumas classes de ansiolíticos, principalmente quando usadas por longo tempo ou em altas concentrações, de causarem abuso, dependência e indução à maior medicalização, o que pode diminuir a eficácia do tratamento e qualidade de vida do paciente (De manera similar a lo encontrado en nuestra investigación, otro estudio sugirió que esta relación puede explicarse por el potencial de algunas clases de ansiolíticos –especialmente cuando se usan durante mucho tiempo o en altas concentraciones– de causar abuso, dependencia e inducción a mayor medicalización, que puede disminuir la efectividad del tratamiento y la calidad de vida del paciente).28 Ademais, o aumento do consumo desse tipo de medicação pelo portador de doenças crônicas, como o câncer, além de ser induzido pela dependência, também pode estar associada à percepção negativa, do indivíduo, em relação à sua própria saúde, afetando ainda mais sua saúde mental.29

A ausência de parceiros foi vista como fator de proteção para sinais e sintomas depressivos no presente estudo. No entanto, observa-se, na literatura, várias pesquisas que abordam a importância de um companheiro na diminuição dos riscos de desenvolvimento de transtornos mentais.17,30 Essa divergência nos resultados pode ter ocorrido devido ao isolamento social causado pela pandemia, que obrigou os casais a conviverem por mais tempo um com o outro, o que foi visto como fator estressante e causador de mais discussões entre os parceiros e contribuiu para o aparecimento de transtornos mentais, como a depressão (Esta divergencia en los resultados puede haber ocurrido debido al aislamiento social provocado por la pandemia, el cual obligó a las parejas a vivir más tiempo juntas, lo que fue visto como un factor estresante y provocó más discusiones entre los convivientes y contribuyó a la aparición de trastornos mentales como la depresión).31

Sabe-se que os fatores socioeconômicos influenciam diretamente no aparecimento de sintomas psíquicos.32-34 No presente estudo, ficou evidente que a manutenção ou aumento da renda, durante a pandemia, foi um fator protetivo para o surgimento de doenças mentais como a depressão, o que também foi observado em outro estudo realizado antes da pandemia.35 Isso pode ser associado à menor preocupação que o paciente vai ter com sua família e com si próprio, se tiver uma renda suficiente para a manutenção das necessidades diárias (Esto puede estar asociado con La menor preocupación que el paciente tendrá con su familia y consigo mismo, si tiene suficientes ingresos para mantener sus necesidades diárias).

Por fim, os resultados deste estudo evidenciaram que a presença de sintomatologia da COVID-19, pelos pacientes oncológicos, foi um fator que contribuiu para o desenvolvimento de sinais e sintomas depressivos. Resultados semelhantes foram vistos em outras pesquisas, as quais mostraram maior nível de ansiedade e depressão em pessoas que se infectaram e apresentaram sintomatologia para o SARS-COV-2.36,37 Esse fato pode estar atrelado à maior angústia causada pelo isolamento requerido pela presença da sintomatologia do (Este hecho puede estar vinculado con la mayor angustia que provoca el aislamiento que requiere la presencia de los síntomas del) SARS-CoV-2,3 como também pelos sentimentos de medo e incerteza, gerados pela possibilidade de contrair essa infecção e insegurança em relação à evolução da doença, por maiores taxas de complicações e morte nesse grupo mais vulnerável de pacientes.4

É importante destacar algumas limitações, como a heterogeneidade da amostra e possíveis dificuldades na resolução do questionário por ter sido utilizado o ambiente virtual, porém esse método foi uma opção coerente no momento da pandemia, diminuindo os riscos de contaminação dos pacientes e pesquisadores (como la heterogeneidad de la muestra y las posibles dificultades en la resolución del cuestionario debido a que se utilizó el entorno virtual, pero este método era una opción coherente en el momento de la pandemia, reduciendo los riesgos de contagio para pacientes e investigadores).

Em relação ao preenchimento adequado do questionário, principalmente pelo fato da amostra ser de maior prevalência em idosos, é importante ressaltar que, na tentativa de suprimir os possíveis erros de preenchimento do questionário, os autores disponibilizaram seus contatos profissionais, ficando à disposição para sanar dúvidas dos participantes e as questões foram inicialmente testadas e um estudo piloto com perguntas fáceis de entendimento (En cuanto a la correcta realización del cuestionario, y principalmente porque la muestra es más prevalente en adultos mayores, es importante destacar que, en un intento por suprimir posibles errores en la carga de los datos, los autores pusieron a disposición sus contactos profesionales para responder cualquier consulta de los participantes, habiéndose probado inicialmente las preguntas con un estudio piloto).

Sobre a EHAD é importante pontuar que apesar de amplamente utilizada na literatura, a mesma informa sobre a presença de sinais e sintomas de ansiedade e/ou depressão, mas não realiza o diagnóstico efetivo desses transtornos.

Conclui-se, portanto, a partir do presente estudo, que os pacientes oncológicos durante o período de pandemia pela COVID-19 obtiveram maiores prevalências de sinais e/ou sintomas ansiosos e depressivos quando comparados a períodos anteriores, além de fatores biológicos, sociodemográficos, socioeconômicos e aspectos relacionados ao câncer associados ao risco de desenvolver sinais e/ou sintomas de ansiedade e/ou depressão.

A identificação dos fatores de risco ou de proteção para o desenvolvimento desses transtornos mentais, pode servir como base para a criação, pelo governo, de estratégias de ações voltadas à saúde mental desse grupo, como na disponibilização de uma equipe multiprofissional, com psicólogos e psiquiatras, além de educadores físicos que estimulem, de acordo com as limitações individuais, práticas de exercícios físicos e atividades de lazer (La identificación de factores de riesgo o para la prevención de la aparición de estos trastornos mentales puede servir de base para la creación, por parte del gobierno, de estrategias de acción dirigidas a la salud mental de este grupo, como la disponibilidad de un equipo multidisciplinario, con psicólogos, psiquiatras y profesionales de educación física que fomenten, según las limitaciones individuales, el ejercicio físico y las actividades de ócio).




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