Red Científica Iberoamericana

CENA DE PARTO (ESCENA DEL PARTO): EXPERIÊNCIAS E (Y) PERCEPÇÕES DISSIDENTES DE SAÚDE E DE BEM-ESTAR (SALUD Y DE BIENESTAR)

Rosamaria Carneiro
Cientista Social E Professora, Professora, Universidade De Brasília, Campinas, Brasil

Campinas, Brasil (SIIC)

Este trabalho traz à tona (alcanza) representações sociais de parto que têm sido (han sido) construídas por mulheres brasileiras que recentemente têm vivido outras experiências de parto, que não o cirúrgico e hospitalar (que no son el quirúrgico y en el hospital).

Este trabalho* apresenta as percepções (presenta las percepciones) de parto de mulheres que, no em (en el) Brasil contemporâneo, têm procurado (han buscado) parir da (de la) “maneira mais natural possível”. Ao fazê-lo (Al realizar esto), traz à tona outras leituras (se alcanzan otras perspectivas) sociais de dor (dolor), de corpo feminino e de (y de) parto, descolando a (dejando a un lado) la negatividade, bastante persistente em nosso imaginário, para uma positividade que resvala para os (se aproxima a los campos) da sexualidade e da espiritualidade. Nesse (En este) sentido, o parto aparece como experiência sexual e prazerosa (y agradable), assim como de uma espiritualidade imanente e vivida através do corpo. E assim, tais (Es así, estas) mulheres parecem colocar em jogo (en juego) premissas há muito tempo (hace mucho tiempo) consolidadas, indicando outras políticas do corpo feminino.
Para os grupos de mulheres adeptas de outros (que adhieren a otros) modos de parir que não a (no son la) cesárea e ou ( y el) modelo tecnocrático-hospitalar, a dor do trabalho (el dolor del proceso) de parto parece operar em outro registro, que não o da desordem e (que no es el del desorden y) de algo a ser evitado. Dispostas a “sentir o parto”, parecem ir ao encontro das (al encuentro de las) contrações, das emoções e do descontrole, dando passagem para (permitiendo) percepções de saúde que seriam atravessadas pela (por la) sexualidade e pela espiritualidade, por noções de êxtase e (sensaciones de extasis y) de transe. Diante disso (Frente a esto), pretende-se explorar se e como tais (como tales) experiências e percepções têm desalojado a (han separado la) prática médica da (de la) “biopolítica”, tematizando (poniendo en tema), para tanto, suas impressões e atitudes à luz da (y actitudes frente a la) lógica das intensidades e dos afetos (y de los afectos), de novos modos de subjetivação e da possibilidade de outras moralidades, que não mais a da (no son más de la) histeria e a da (y de la) fragilidade dos corpos das mulheres.

Se assim é e em (Si así es y en) outro sentido têm se posicionado as adeptas do “parto humanizado”, quais seriam as (cuales serían las) consequências de suas narrativas no que tange aos (en el que refiere a los) processos de subjetivação feminina na (en la) contemporaneidade? Ou então, quanto às (O entonces, en lo que refiere a las) moralidades dos (de los) corpos, como poderíamos pensar, a partir disso (de esto), na (en la) representação do corpo grávido (del cuerpo embarazado), existiriam outras moralidades sexuais? Entre as adeptas do parto humanizado, existe um manejo de técnicas de cuidado de si, um mínimo esboço do (esbozo de lo) que entendem ser (se entiende como) correto e incorreto, uma relação diferente com o risco e com o medo, com as hierarquias (con el riesgo y con el miedo, con las jerarquías) entre médicos e pacientes, aspectos estes que parecem indicar outro imaginário de corpo e de subjetividade feminina, dissonante do ditado (distinto del dictado) por discursos de controle anteriores, tanto por parte da Igreja (por parte de la Iglesia), quanto da Medicina ou do Direito (o de la Justicia), todos pensados a partir do ocidente (de occidente). Pelo que parece, elas tentam (ellas intentan) estabelecer outro diálogo com a figura materna, moldando essa subjetividade não mais como a da “mãezinha” (no más como de la “madrecita”), que necessariamente sofre e (sufre y) “padece no (en el) paraíso”, a partir do corpo frágil e perigoso, ou seja, a (es peligroso, o sea), la vítima de sua própria anatomia; bem ao contrário (bien el opuesto), esses grupos de mulheres parecem buscar conferir outra tonalidade a essa subjetividade, a saber, mais processual.

É certo (Es cierto) que, para alguns teóricos, o movimento ao redor do (en el entorno del) parto humanizado viria somente reforçar ou (solamente vendría a reforzar) reiterar mitos anteriores, como o de que a mulher está para a natureza e o homem (y el hombre) para a cultura e o do (y del) amor materno. Não obstante, em nosso entender, essas outras práticas de parto carregariam (cargarían), junto dessa possibilidade, também sinais da (señales de la) existência de outros processos de subjetivação e de outras moralidades de corpo feminino, leituras (lecturas) de outras corporalidades, tanto por parte das (de las) gestantes, parturientes e “já paridas” (“ya paridas”), quanto por parte de seus companheiros e, por último, de alguns dos profissionais de saúde adeptos do ideário do de las ideas del parto humanizado. Se a doença vem assim (Si la enfermedad viene así) caracterizada, a saúde e o bem-estar teriam seus (tendrían sus) contornos alargados, congregando a necessidade de uma visão para além do (una visión más allá del) corpo físico, que levasse em (tendría en) consideração a própria trajetória daquela que gesta e está (de aquella que gesta y está) parindo, somada a aspectos, uma vez mais, da (del) ordem do espírito e do sexual, linhas caracterizadoras da “partolândia”; um estado considerado satisfatório. Poderíamos pensar aqui, na falta de um termo mais (a falta de un término más) original, numa noção (en una noción) de saúde sistêmica. Ou em uma (O en una) saúde atravessada e composta também pelas emoções, sentimentos e sensações, na qual a dor (en la cual el dolor), ocidentalmente construída, encontraria, como também já pudemos (como también ya podemos) tematizar, outras possibilidades de inscrição (inscripción). Essas percepções de saúde e de bem-estar teriam, por tudo isso, uma relação diferente com o risco e com o medo, pois subvertem a (porque invierten la) lógica ou a relação de causa-consequência entre um e outro até uo (y otro hacia) operantes quando o assunto é a parturição (es el parto).
Digo dessa maneira porque, para parir de modo saudável, as mulheres do “parto humanizado”, mesmo sentindo medo e temendo o risco, ao invés de protegerem-se (en vez de protegerse), resguardando-se do que, por ventura, pode ocorrer, apostam e dispõemse (apuestan y se disponen) a ambos, colocam-se perante o desconhecido (frente a lo desconocido), “com o que não se sabe onde vai dar”, ainda que isso não (“con lo que no sabe adónde va a llegar” mientras eso no) implique num rechaço (un rechazo) integral da tecnologia e do conhecimento médico, posto que, exageros à parte (porque, sin exagerar), quase todas procuram (casi todas buscan), minimamente, refletir (reflejar) sobre modelos, métodos, locais e profissionais de parto.



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