A IMPORTÂNCIA DA INFORMÁTICA MÉDICA NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO, PESQUISA E NO CUIDADO EM SAÚDE
Zilma Silveira Nogueira Reis1,Marcelo Rodrigues dos Santos2,José Edgard Soares Júnior3 y Gabriel Costa Osanan4
1Departamento de Ciências da Informaçao e da Decisao em Saude da Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal
2, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil
3, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil
4, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil
Porto, Portugal (SIIC)
A informática pode contribuir sobremaneira para uma melhor prática em saúde. Para isto, é postura estratégica a viabilização do trabalho em equipe formada por informáticos e profissionais de saúde capazes de se entenderem e de compartilharem seus conhecimentos de forma integrada ao ensino, pesquisa e prática em saúde.
A informática médica tem progredido rapidamente e já não se pode negar a relevância de sua contribuição para melhorias na prática clínica. Esta evolução vem acontecendo de forma paralela e dinâmica à do conhecimento científico em saúde e nesta trajetória, as boas oportunidades devem ser reconhecidas, analisadas e utilizadas. Neste cenário destacam-se a importância do desenvolvimento e implementação de sistemas de informação adequados na prestação do cuidado em substituição aos prontuários de papel; a participação estratégica de profissionais de saúde no processo da informatização; e o investimento na formação de futuros médicos capazes de participar, compreender e usufruir cada vez mais desta área do conhecimento, de forma integrada à medicina.
Os sistemas de informação
Em contraste ao prontuário de saúde registrado em papel que possui natureza estática, os sistemas de informação eletrônicos são capazes de coligir um número amplo de dados, armazená-los e recuperá-los com segurança para análise quando necessário, servindo à coleta e armazenamento de observações clínicas. Eles também possibilitam o compartilhamento de dados entre profissionais de saúde, contribuem para formação médica na medida em que podem fomentar a geração de conhecimento, alem de servirem ao monitoramento do desempenho profissional individual ou coletivo e, simultaneamente, à justificação médico-legal de questionamentos jurídicos(1). Outra vantagem dos sistemas informatizados na saúde é que os seus dados podem ser inseridos direta e automaticamente, a partir de interfaces com outros computadores e monitores de sinais clínicos, como imagens radiológicas, ultrassonográficas, vídeos e sinais sonoros. O acesso posterior às informações do paciente ou casuística da instituição torna-se então mais fácil quando comparado aos registros em papel, pois é possível fazê-lo com legibilidade, uniformidade, menor redundância e maior segurança, até mesmo de forma remota.
Entretanto, os sistemas, produtos e serviços de informação devem ser desenvolvidos de forma a agregar valor à informação a ser processada, com o objetivo de auxiliar os usuários no processo de tomada de decisões, e, em última instância, empreender ações de saúde mais eficazes. Com efeito, as necessidades de um sistema de informação deveriam ser elucidadas pelos seus próprios usuários, colocadas no contexto em que ele realmente as experimenta, e considerando-se a forma como seriam utilizadas na prática(2). O ambiente universitário de ensino, pesquisa e prestação de serviços é para isto um modelo da realidade do mercado de saúde bastante adequado para estas tarefas, desde que existam recursos humanos interessados e preparados para tal e que a proposta seja reconhecida como parte de uma demanda institucional de ensino e pesquisa.
A estratégia da interoperabilidade
Outra questão relevante da informatização na atenção à saúde das pessoas é que com a difusão dos sistemas de informação e de suas aplicações nesta área, sua complexidade informacional também aumenta, fazendo com que o histórico de eventos ocorridos com os pacientes esteja armazenado, de maneira distribuída, em várias bases de dados diferentes. Essas bases de dados armazenam resultados de exames laboratoriais, imagens digitais, relatórios médicos, histórico de tratamentos e outros, que ocorrem na vida de um indivíduo. A ubiqüidade dos sistemas, a variabilidade dos conceitos e a quantidade crescente de dados, tornam de grande relevância a questão da interoperabilidade entre eles, uma vez que a disponibilidade da informação de saúde integrada, no local onde a assistência médica é realizada, é capaz de modificar o cenário de saúde seja em uma instituição, região, país ou, até mesmo, de forma globalizada.
Para equacionar esta questão uma estratégia importante é a de rever conceitos, buscar estruturas com padrões universais para saúde, já na fase de desenvolvimento dos sistemas. Para isto, uma das abordagens tem sido a da fundação openEHR, que traz uma proposta para a questão da interoperabilidade entre sistemas no contexto de um registro eletrônico(3). Trata-se de uma especificação aberta para a construção de sistemas de informação influenciada pelos resultados de projetos na União Européia e Austrália, desde o início dos anos 90. Baseia-se em uma arquitetura fundamentada na elaboração de dois modelos, em dois níveis diferentes: um modelo de informação e um modelo de conhecimento. Com efeito, quando esses modelos são compartilhados entre os sistemas de informação, aumentam-se as chances de obtenção de interoperabilidade
O desafio do envolvimento dos profissionais de saúde na informatização
O domínio da saúde é reconhecido pela quantidade e complexidade de conceitos existentes, assim como pela velocidade com que esses se alteram. Desta forma, ao se propor a informatização de um processo, a formalização prévia de muitos dos conceitos específicos da área torna-se indispensável e oportuna. Além disto, espera-se que as necessidades de informação sejam suficientemente detalhadas e completas para representar a realidade do cenário da prestação de cuidado em saúde e para atender as expectativas de seus usuários(2). Assim, é a partir de uma situação real acerca de um problema de saúde, envolvendo uma análise do processo de trabalho, fomentado pelos recursos disponibilizados e frente às necessidades dos pacientes, que se torna possível aos profissionais de saúde e da informática trabalhar em conjunto no desenvolvimento e implementação de sistemas de informação mais adequados. Esta parceria é ocasião estratégica de envolvimento de equipes multidisciplinares para que efetivamente seja possível colocar os futuros usuários e os próprios doentes no centro das soluções tecnológicas e organizacionais que são necessárias à melhoria dos processos de trabalho. Desta forma, ao invés de nós, profissionais de saúde, resistirmos às mudanças que urgem ser feitas nesta área devemos tentar ser o seu motor, valorizando ou criticando soluções atuais ou futuras, mas envolvendo-nos sempre(1).
Mais uma vez, pensar desde a formação do profissional de saúde em prepará-lo para conviver e interagir com a informática médica é uma opção das instituições universitárias que possuem uma visão clara das necessidades futuras de seus egressos. É fato que o ensino em ambiente E-learning e em processos envolvendo simulação já vêm sendo empregados em muitas escolas. Neste processo educacional que substitui o paciente real por modelos artificiais ou pacientes em realidade virtual o que se procura é imitar o ambiente real, regiões anatômicas ou tarefas clínicas, refletindo da melhor maneira os cenários verdadeiros para os quais o profissional precisará estar preparado em termos de habilidades de decisão e também motoras. O processo em si traz semelhanças com o da informatização da prática clínica, mas é preciso avançar mais. A introdução de conteúdos básicos de informática no currículo de graduação e pós-graduação e a própria informática médica como uma nova especialidade emergente constituem-se provocações às mudanças que podem causar um impacto positivo nos processos de trabalho e da atenção em saúde, favorecendo em última instância o próprio paciente, real beneficiário do cuidado.