Artículo completo Nas últimas décadas a ultra-sonografia tem contribuído bastante na identificação e diferenciação de lesões mamárias palpáveis e não palpáveis.1-3 Na verdade, o ultra-som tem um papel fundamental na visibilização de nódulos hipoecóicos acima de 5mm e, as características sonográficas, inicialmente descritas por Kobayashi, ainda permanecem como parâmetros fundamentais para a diferenciação entre lesões benignas e malignas.1,2 A busca de outros parâmetros, descritos posteriormente por vários autores, puderam também contribuir para a diferenciação das lesões.3 Não obstante, até o momento existe uma grande confusão sobre quais os parâmetros que devem ser observados e quais aqueles que normalmente tem uma probabilidade maior de estarem associados ao câncer. No trabalho "Estudo prospectivo das características sonográficas no diagnóstico de nódulos sólidos da mama",4 analisamos seis características, que pudessem estar relacionadas com a neoplasia mamária: contornos da lesão, ecos internos, ecos posteriores, direcionamento do maior diâmetro, ligamentos de Cooper e o halo ecogênico anterior. Os resultados que podem ser vistos na figura 1, mostraram que quatro das seis variáveis estudadas apresentaram relação significante com o nódulo maligno. Figura 1. Distribuição percentual entre as características sonográficas dos nódulos malignos e benignos da mama. A variável de maior ligação foi o diâmetro ântero-posterior maior que o latero-lateral. Apesar desta variável só estar presente em pouco mais de 50% das lesões malignas, quando presente, isoladamente representou uma possibilidade de câncer 28 vezes maior que o diâmetro latero-lateral maior que o ântero-posterior. A presença da sombra acústica posterior foi encontrada em 69% dos casos de câncer, sendo significativamente mais observada na neoplasia maligna que nos nódulos benignos (14%) e representando, por si, uma possibilidade de indicar um câncer 13 vezes mais que uma lesão benigna. Os contornos irregulares foi a característica mais encontrada nos nódulos malignos, estando presente em 77% dos casos de câncer, porém podendo estar presente em 25% dos casos de nódulos benignos. Mesmo assim, essa diferença foi altamente significativa e, uma lesão de contornos irregulares apresenta 10 vezes mais chances de ser um câncer que uma lesão benigna. Os ecos internos heterogêneos apareceram em 62% dos casos de câncer e também estiveram significativamente associados ao câncer. Na presença dessa característica, o ultra-sonografista poderá predizer que aquela lesão apresenta 7,9 vezes mais de ser um tumor maligno que um benigno (tabela 1). Das variáveis estudadas, tanto o espessamento dos ligamentos de Cooper quanto a presença do lado ecogênico anterior não estiveram associados com o câncer. Possivelmente isso se deveu à baixa freqüência do primeiro e à alta subjetividade do segundo. Acreditamos que as quatro características que estiveram significativamente associadas aos nódulos malignos devam ser a base para a criação de sistemas matemáticos que possam, como o BIRADS para a mamografia, indicar tanto para o ultra-sonografista quanto para o clínico, qual a conduta deverá ser adotada diante determinada lesão vista pelo ultra-som. No momento, devido à altíssima prevalência das características sonográficas nos casos de câncer (diâmetro AP maior que o LL, sombra acústica posterior, contornos irregulares e ecos internos heterogêneos), a presença de apenas uma dessas variáveis, por si só, já indica a necessidade de uma biópsia da lesão em estudo. Deve ser enfatizado que no trabalho apresentado, dos 13 casos de câncer, dois não apresentaram nenhuma das características mostradas que poderiam estar associadas à neoplasia maligna. Para estes casos, a idade deve ser sempre considerada em conjunto, evitando que algum caso de câncer possa passar despercebido, postergando o diagnóstico da lesão vista ao ultra-som. Atualmente estamos dando continuidade ao estudo, incluindo um número maior de casos e, posteriormente, uma nova análise poderá confirmar ou acrescentar alguma outra característica. Também será importante a realização de analise multivariada, para que possam ser observadas as relações de interferência entre uma característica e outra. A partir daí, a acurácia da associação das variáveis independentes poderá nos mostrar quais as lesões deverão ser investigadas de imediato e quais aquelas poderão ser simplesmente acompanhadas.
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